Crônicas de Buenos Aires 1 - café

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Eu estava lá. Trasnoche. Dia terça ou quarta não lembro mais. Um café. Eu, tomando a cerveja argentina, a Quilmes. Sozinha. Observo a fauna humana argentina. Engravatados. Gringos mochileiros, Brasileiros com seus zilhões de pacotes, falando alto. Uma senhora. Sozinha. Nem sei o porquê, lembrei da minha avó. Ela tomava um café. Tinha os cabelos brancos lisos, sem tintura. Como a minha vó. Escolheu algo no menu e falava com o garçom com um espanhol italianado. 100% portenha. Tomava o café sem pressa. Reparou que eu estava com os olhos fixos nela. Me fez um cumprimento de cabeça. Retribuo. Simpatia mútua. O café dela e a minha Quilmes. De repente, os olhos verdes dela parecem duas labaredas. Jades incandescentes. Acompanho o seu olhar. Ele entra. Ela espera. Nenhuma ansiedade, ela sabe que ele está ali por e para ela. Ele procura. Ela sorri, não faz nenhum gesto, não chama. Sabe que ele vai sozinho encontrá-la. Tudo no seu devido tempo. Ele se aproxima. Nem tão garboso assim. Ele beija a mão dela. Ela acaricia os (poucos ) cabelos dele. Sem pressa. Eu ali, vampirescamente observando tudo. Ela é linda, ele é comum. Tudo bem. Ele paga o café. Eles se levantam. Mais uma vez ela faz o mesmo gesto, agora de despedida. Sorrio. Eles saem. O perfume dela está no ar, perfume antigo, guardado no fundo do armário. Forte. Concentrado. O café fica triste. Minha Quilmes perde a graça. Peço um café. E espero meu amado aparecer. Nem tão garboso assim. Pouco importa.

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